Arte e arquitectura vistas à lupa no BCI

Teve lugar na sexta-feira, 15 de Fevereiro, no auditório do BCI, em Maputo, o encerramento da exposição de arte dos artistas Sónia Sultuane e Jorge Dias, intitulada ‘Pancho: Outras Formas e Olhares’. Nesta cerimónia, para além de ter sido anunciada a oferta do quadro “7 Vidas”, de Sónia Sultuane, à oncologia do Hospital Central de Maputo, o arquitecto moçambicano Júlio Carrilho proferiu uma palestra sobre a relação entre a arquitectura e a arte.
A começar, Carrilho confessou que teve inicialmente algumas dificuldades para distinguir a arte da arquitectura, porque “era como se estivesse a falar da relação entre uma coisa e a mesma coisa” – disse e prosseguiu: “a arte, na contemporaneidade, já não possui mais a necessidade de estabelecer uma conexão com o mundo real, ou seja, já não é mais fundamental representar algo da natureza, da vida quotidiana. Hoje estabeleceu-se que existe uma possibilidade de transcendência do real. A arte não representa, mas, principalmente apresenta uma questão. Já não se retrata. Também se apresenta um problema”.
E problematizou: “podemos perguntar: uma obra de arte pode ser um edifício? Para alguns sim. Para este senhor Federico Babina, sim. Um edifício pode ser uma obra de arte sobretudo se estiver relacionado com formas de ver, de fazer o edifício deste ou daquele estilo ou pessoa ou artista. Outros consideram que a arquitectura é a síntese das artes. Acho que é uma afirmação um pouco presunçosa. Mas existe gente que diz isto”.
Voltando ao foco da sua apresentação, Júlio Carrilho enfatizou que “a visão da arquitectura como obra de arte é uma das razões que tornam mais complexa a relação entre arquitectura e arte – digamos da relação entre a arquitectura consigo própria”. E explicou: “uma obra de arquitectura não é feita para ser uma obra de arte. É principalmente para servir uma pessoa, uma família, uma comunidade, um bairro. No caso das obras de arte, o elemento principal é transmitir uma mensagem de forma que, de algum modo, possa criar empatia no observador. Uma obra de arte que não toque o observador é estéril”.
Mais adiante colocou a pergunta que não quer calar: será que a arquitectura faz parte das grandes artes? “Dizem que sim, que as três grandes artes são pintura, escultura e arquitectura” – disse e relativizou: “Mas a arquitectura era. Libertou-se. A arquitectura era todas as técncas de construção misturadas: engenharia, construção projectação, desenho, etc. e foi se libertando ao longo dos tempos desde a Grécia até agora. A última libertação deu-se no século XIX, em que se separa da engenharia. Mas a arquitectura englobava tudo isto. E qualquer dia eu acho que esta arquitectura que nós temos na escola vai desaparecer. Vai aparecer o desenho de objectos e outros. Vai aparecer especializadamente e vai deixar de haver esta coisa de pensar os edifícios como sendo coisas globais. São coisas com muitas coisinhas dentro”. E rematou: “É muito provável que seja uma das áreas de conhecimento ou de cursos em via de extinção, não sei”.